Nos dias de hoje, as redes sociais se tornaram uma parte essencial da vida de praticamente todas as pessoas, e com os atletas não seria diferente. Elas oferecem uma plataforma de visibilidade, de comunicação direta com fãs e patrocinadores, e de engajamento com o público. Mas, por trás desse poder de alcance, existe uma realidade que poucos discutem abertamente: o impacto profundo e, muitas vezes, opressor que essas plataformas podem ter na autoimagem e na autoavaliação de um atleta.
Para muitos atletas, o valor pessoal e profissional começa a se misturar com o número de curtidas, comentários e seguidores que possuem. Quando a vida nas redes sociais se torna uma vitrine constante, a autoavaliação passa a ser influenciada por um julgamento externo, muitas vezes superficial e distorcido. Isso é especialmente problemático quando o foco, que deveria estar no desempenho esportivo, desvia-se para as métricas de aprovação pública, o que raramente reflete a verdadeira qualidade do trabalho, do esforço e do crescimento pessoal que o atleta vivencia diariamente.
A autopercepção, que deveria ser baseada em objetivos pessoais, conquistas e superações internas, passa a ser moldada por expectativas que vêm de fora. Quando a performance de um atleta é avaliada não pelo seu esforço nos treinos ou pelo desenvolvimento de suas habilidades, mas pelos comentários de quem não conhece os detalhes da rotina de preparação, surge um campo fértil para frustração e insegurança. Afinal, como lidar com a discrepância entre o que se faz de fato e o que é percebido publicamente?
Essa pressão, invisível aos olhos externos, pode ser esmagadora. Uma publicação ou um vídeo pode gerar uma onda de aprovação ou críticas, e essa montanha-russa emocional tem o poder de minar a confiança e abalar a concentração. O atleta, que deveria focar em sua jornada esportiva, começa a se questionar sobre sua relevância com base no que outros, muitas vezes desconhecidos ou desinformados, estão dizendo nas redes. E o problema mais evidente surge quando o atleta substitui sua autoavaliação interna, aquela que se constrói a partir de seus próprios parâmetros e metas, pela avaliação pública. A rede social, então, não só o afasta da sua essência como atleta, mas também o coloca em uma posição de vulnerabilidade emocional.
É fácil cair na armadilha de medir o valor pelo número de seguidores ou pela quantidade de reações que uma postagem gera. E é nesse momento que as redes sociais, inicialmente vistas como uma ferramenta de divulgação ou de expressão, começam a oprimir o atleta. A comparação constante com outros profissionais, o temor de perder relevância e o desejo incessante de aprovação podem criar um ciclo vicioso de ansiedade e desgaste. Mais do que isso, o foco, que deveria estar no desempenho atlético, se desvia para alimentar uma imagem pública. E quando essa imagem não reflete a realidade, as consequências podem ser devastadoras para a saúde mental e emocional do atleta.
No entanto, as redes sociais, como qualquer outra ferramenta, não são inerentemente boas ou ruins. O que realmente faz a diferença é a maneira como são utilizadas. Aprender a lidar com a presença digital de forma equilibrada pode ser um diferencial importante na carreira de um atleta. Ao entender que a aprovação externa nunca será um indicador real de competência, o atleta pode se libertar das correntes invisíveis impostas pelo mundo digital. É necessário encontrar um ponto de equilíbrio entre a exposição pública e o compromisso com seu próprio crescimento, tanto físico quanto mental.
E essa reflexão nos leva a um questionamento essencial: será que os atletas estão sendo educados o suficiente para navegarem nesse terreno nebuloso? Mais do que aprender a jogar ou treinar, eles estão sendo preparados para lidar com a exposição e as expectativas externas? Porque, no fim das contas, a verdadeira medida de sucesso não está nos likes acumulados, mas na capacidade de manter o foco no que realmente importa.
O desafio, portanto, não é abandonar as redes sociais, mas aprender a usá-las com inteligência, sem se tornar escravo de suas armadilhas. É saber que, mesmo com a crescente presença digital, a verdadeira autoavaliação vem de dentro, do esforço diário, do comprometimento com os próprios objetivos. E, ao final de cada treino, de cada competição, é essa avaliação interna que deve ser a mais valiosa, não aquela que é medida pelo barulho externo, mas pelo silêncio da consciência tranquila.
No fundo, o jogo mais importante que o atleta moderno precisa aprender a jogar não está apenas no campo, na quadra ou na pista. Está na sua habilidade de separar o real do virtual, o significativo do superficial. Porque, no fim das contas, o que realmente define o seu valor como atleta é a soma das suas escolhas e da sua dedicação, e não os aplausos efêmeros que vêm de fora.
Kleber Maffei
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