A mente nunca está em pausa. Enquanto o corpo se movimenta ou repousa, ela opera incessantemente, como uma engrenagem que não conhece descanso. Dentro e fora das competições, o que se passa na mente de um atleta ou de qualquer pessoa em busca de alta performance é tão determinante quanto o treino físico ou a execução técnica. O que se pensa, sente e imagina pode ampliar horizontes ou erigir barreiras que parecem intransponíveis. E não é curioso que, mesmo quando parece silente, a mente esteja a preparar o próximo passo, ensaiando vitórias ou antecipando derrotas?
Nos bastidores do desempenho, estudos têm demonstrado o impacto da atividade mental constante. Um exemplo notável vem da visualização, prática amplamente investigada em neurociência. Pesquisas mostram que imaginar um movimento ativa no cérebro as mesmas áreas que a execução física real. Isso significa que, mesmo sentado no banco de reservas ou em casa, um atleta pode, de certa forma, “treinar” sua técnica mentalmente. Isso não é místico, é ciência. Mas há um outro lado: quando a mente se enche de dúvidas, medos e autocrítica exagerada, ela pode reforçar padrões de fracasso com a mesma intensidade com que poderia construir a confiança. Aqui se revela a dualidade da mente: uma ferramenta poderosa que tanto pode erguer como derrubar.
Embora muitas vezes invisível, essa maratona mental tem efeitos concretos. Quando um atleta se vê em um ciclo de autossabotagem, por exemplo, a liberação de cortisol, conhecido como o hormônio do estresse, aumenta, influenciando não apenas o estado emocional, mas também o físico. Cortisol em excesso pode levar a fadiga muscular, menor capacidade de recuperação e, em casos extremos, até lesões. Por outro lado, estudos sobre a prática de mindfulness e outros métodos de autorregulação emocional indicam que é possível reduzir significativamente os níveis desse hormônio, permitindo um estado mais equilibrado e propício para o desempenho. Não seria isso um lembrete de que a mente e o corpo caminham em harmonia, ainda que muitas vezes o foco fique apenas no que se pode medir ou observar?
Mas a questão vai além do controle emocional. O pensamento estratégico, por exemplo, é outro aspecto dessa maratona interna que se reflete em resultados concretos. Durante uma partida, decisões precisam ser tomadas em milésimos de segundo, e o cérebro depende de padrões pré-estabelecidos para agir rapidamente. Esses padrões são moldados não apenas pelo treino técnico, mas pelas histórias que a mente conta a si mesma, pelas crenças que carrega e pelos cenários que ensaia repetidamente. Não é à toa que atletas de elite frequentemente mencionam a importância de estarem mentalmente preparados para lidar com adversidades, e não apenas fisicamente prontos para superar os desafios.
No entanto, a mente também é inquieta. Mesmo no descanso, ela trabalha. Pesquisas sobre o “modo padrão” do cérebro, o estado em que não estamos focados em uma tarefa específica, mostram que a mente frequentemente revisita o passado ou antecipa o futuro, em uma espécie de fluxo incessante de pensamentos. Esse “treinador interno” pode ser um aliado ou um crítico severo, dependendo de como foi moldado. E talvez seja aqui que reside um dos maiores desafios para atletas e pessoas em busca de alta performance: aprender a canalizar essa energia mental para algo que construa, em vez de corroer.
A preparação mental, portanto, não é um luxo ou um complemento ao treinamento físico; é parte integrante do processo. Ainda assim, é curioso perceber como muitas vezes ela é negligenciada, relegada a um papel secundário. Talvez porque o que se passa na mente não seja imediatamente visível. Ou talvez porque mexer com as engrenagens invisíveis exige coragem e paciência, virtudes raras em um mundo obcecado por resultados rápidos e tangíveis.
O que fica claro é que a mente, essa companheira incansável, nunca para. E, como qualquer atleta, ela precisa ser treinada, direcionada e, às vezes, acalmada. Porque, no final das contas, a maratona dentro da competição não tem linha de chegada. Ela é contínua, ininterrupta, e sua direção depende de quem a guia. E se há algo a ser aprendido com isso, talvez seja que o verdadeiro jogo não se ganha apenas no campo, mas também nos bastidores do pensamento, onde tudo começa e, quem sabe, termina.
Kleber Maffei
Nos dias de hoje, as redes sociais se tornaram uma parte essencial da vida de praticamente todas as pessoas, e com os atletas não seria diferente. Elas oferecem uma ...
Durante anos, o atleta vive em torno de um ciclo específico e envolvente: treino, competição, conquista, superação. Para cada um que atinge o nível do alto ...