Há uma distância silenciosa crescendo entre quem ensina e quem aprende. Não é uma diferença de idade, é de linguagem, de ritmo, de percepção de mundo. Os profissionais do esporte, formados em outras épocas e formatos, estão cada vez mais desafiados a se conectar com atletas da Geração Z, e, agora, com os primeiros representantes da Geração Alpha.
Ambos vivem em uma realidade acelerada, digital, fragmentada. Cresceram com o polegar treinado para deslizar telas e não cartilhas. São jovens que passaram a infância sendo notificados por múltiplas telas, recompensados instantaneamente por cliques e curtidas. E que, ao entrarem no ambiente esportivo, muitas vezes se deparam com treinadores que ainda operam sob códigos de autoridade e modelos de ensino que não conversam com essa nova sensibilidade.
O resultado? Desconexão. Baixo engajamento. Comunicação truncada. E um risco perigoso: o de se formar um atleta treinado, mas não tocado.
O desafio não é apenas técnico, é relacional.
Essas gerações querem se sentir vistas. Precisam entender o “porquê” antes do “como”. Questionam mais, se frustram rápido, mas também carregam um potencial criativo, colaborativo e adaptável que pode ser revolucionário… se bem canalizado.
Mas como fazer isso? Como formar sem afastar? Como exigir sem bloquear?
A resposta está menos em mudar o que se ensina, e mais em como se ensina.
É hora de trocar o grito pela escuta. O comando direto pelo diálogo intencional. A autoridade imposta pela autoridade construída, aquela que se conquista, não que se herda.
Algumas pistas para começar esse processo de ressignificação:
- Traduza sua intenção. Explique o porquê de cada escolha, treino ou orientação. Gerações mais novas valorizam o sentido das coisas.
- Use o digital como ponte, não como barreira. Leve conteúdos, feedbacks e até interações para o ambiente onde eles já estão: o celular.
- Crie rituais de escuta ativa. Reuniões rápidas, check-ins emocionais, perguntas abertas. Escutar é mais formativo do que parece.
- Atualize sua linguagem. Não precisa usar gírias ou memes. Mas precisa evitar o tom de superioridade que intoxica.
- Seja mentor, não apenas técnico. Quem toca o emocional, molda o comportamental.
A Geração Z e a Alpha não são “piores” ou “mais difíceis”. Elas apenas vêm com um novo sistema operacional. Quem insiste em usar métodos analógicos para educar seres digitais, vai enfrentar falhas de conexão.
Se, no passado, a relação atleta-treinador se sustentava na obediência quase automática e na reverência à figura do mestre, hoje ela exige reciprocidade, confiança e abertura. O respeito continua sendo essencial, mas ele não nasce mais da autoridade imposta, e sim da coerência entre o que se fala e o que se faz. Ganha escuta quem demonstra interesse real pelo outro.
Além disso, essas gerações têm um radar sensível para o que é autêntico. Tentativas de se “aproximar” de forma forçada ou artificial são percebidas com facilidade. O vínculo se constrói, paradoxalmente, quando o adulto se permite ser vulnerável. Mostrar dúvidas, compartilhar aprendizados e, sobretudo, se colocar disponível para aprender com eles é um gesto que transforma a relação.
Por fim, é preciso aceitar que essa ponte entre gerações será sempre um trabalho em andamento. Não há fórmula fixa, nem manual definitivo. Há, sim, a disposição de mergulhar no universo do outro sem perder sua essência. A formação esportiva nunca foi só sobre desempenho. É, antes de tudo, sobre conexão humana.
E quem entende isso, não apenas treina atletas. Forma pessoas que confiam, se conectam, e performam.
Esse é o novo jogo. E ele exige mais do que técnica. Exige empatia, escuta e adaptação.
A especialização precoce no esporte é um daqueles temas que quase todos conhecem, mas poucos se dispõem a refletir profundamente sobre suas implicações. À ...
Durante anos, o atleta vive em torno de um ciclo específico e envolvente: treino, competição, conquista, superação. Para cada um que atinge o nível do alto ...